20 de junho de 2011

CIÊNCIA X RELIGIÃO


Para muitos filósofos e cientistas não há incompatibilidade entre ciência e religião. Essa é a posição de, entre outros, Stephen Jay Gould, um importante evolucionista norte-americano falecido em 2002 e autor de vários livros de divulgação científica.

Os objetivos da ciência e os da religião:
A ciência trabalha com hipóteses que podem ser testadas, por observações ou experimentos, acerca de fenômenos que podem ser detectados e medidos por instrumentos. Desse modo, a ciência tenta explicar fenômenos empíricos ou factuais por meio de leis e teorias cientificas. Já a religião trata de temas como a existência de Deus, da alma, e o livre-arbítrio, que não podem ser testados experimentalmente e, portanto, não podem ser provados nem refutados cientificamente. Esses temas estão fora da abordagem científica e constituem questões de fé, que dependem da convicção de cada um.
Enquanto a ciência procura descobrir como as coisas (o mundo factual) são, a religião trata de questões éticas, de valores, que procuram descobrir como as coisas devem ser. E muitos filósofos acham que é um erro inferir como as coisas devem ser a partir de como as coisas são (esse erro é conhecido como a falácia naturalista). A ciência pode nos dizer, então, o que somos capazes de fazer, enquanto a religião e a ética nos dizem o que devemos fazer. Isso significa que não podemos extrair um juízo de valor a partir de uma teoria científica: valores pertencem à esfera ética e não à esfera científica.
No livro Pilares do tempo, Stephen Jay Gould considera que ciência e religião são "magistérios não-interferentes". Com isso, ele quer dizer que ciência e religião não podem ser unificadas. Para ele, a ciência desenvolve teorias para explicar o universo natural. A religião, por sua vez, tenta explicar o universo moral, operando em "uma esfera completamente diferente, a dos desígnios, significados e valores humanos - assuntos que a esfera factual da ciência pode até esclarecer, mas nunca solucionar". Em outras palavras, a ciência tenta compreender os fatos, enquanto a religião procura estabelecer finalidades e distinguir o certo do errado, o bem do mal.

Religião e evolução:
Alguns grupos religiosos discordam da teoria da evolução e defendem a idéia de que os seres vivos foram criados por Deus exatamente como está escrito na Bíblia. Eles defendem, portanto, o criacionismo. Uma interpretação literal da Bíblia como essa pode entrar em contradição com as teorias científicas evolucionistas.
No entanto, várias religiões (dentre elas a católica) aceitam a teoria da evolução e consideram que a Bíblia não deve ser interpretada ao pé da letra. Para eles, o ser humano pode ter surgido de outros animais, mas suas características mais importantes seriam espirituais, em vez de materiais, e teriam origem divina. As mensagens espirituais e morais do relato bíblico continuam valiosas e inquestionáveis.
Segundo essa abordagem, uma pessoa pode ser religiosa e aceitar que Deus criou não só o universo, mas também as leis da natureza - como as leis da Física e o processo de evolução.
A maioria dos cientistas acha que há provas suficientes para aceitar que as espécies evoluíram e que essa evolução ocorreu, em linhas gerais, da forma como a teoria atual a explica. Isso não quer dizer que a teoria da evolução não possa ser corrigida e modificada, como qualquer outra teoria científica. É preciso ter sempre em mente o caráter parcial, incerto (hipotético) e inexato do conhecimento científico.
Para Gould, só há conflito quando ciência e religião tentam invadir o território uma da outra. Essa invasão ocorre também pelo lado da ciência, como foi o caso das teses do chamado "darwinismo social", defendido por Herbert Spencer, segundo o qual deveríamos adotar uma economia que deixasse perecer os mais fracos em nossa sociedade. Nesse caso, o erro é confundir um fenômeno natural (a seleção natural ou a sobrevivência dos mais aptos) com a esfera ética, que trata do que deve ser, extrapolando dos fatos para os princípios éticos. Assim, se, por exemplo, descobrirmos que os seres humanos têm uma tendência genética para serem agressivos com estranhos, isso não significa que essa tendência seja boa, ou que os comportamentos sociais decorrentes dela não possam ser mudados e, principalmente, que não devam ser mudados: com as armas capazes de destruição em massa que o homem possui, é vantajoso estimular mecanismos para aumentar a cooperação e diminuir as disputas entre os povos. Em resumo, nem tudo que é natural é necessariamente bom (ou mal), nem deve necessariamente ser preservado.

Religião e ciência podem dialogar:
A ciência não dá conta de todas as necessidades humanas e não é a única forma de conhecer e de se relacionar com o mundo. Ciência e religião respondem a necessidades humanas diferentes e se complementam. A esse respeito, o astrônomo Carl Sagan (1935-1996), em seu livro Bilhões e bilhões: reflexões sobre vida e morte na virada do milênio, afirma que "se grande parte do universo pode ser compreendida em termos de algumas leis simples da natureza, aqueles que desejam acreditar em Deus podem com certeza atribuir essas belas leis a uma razão que sustenta toda a natureza".
Sagan relata também encontros de cientistas com líderes religiosos de várias nações, mostrando que todos buscavam soluções para os problemas ambientais que ameaçam o planeta. Os documentos produzidos nessas reuniões mostram que é preciso ampliar a compreensão sobre os perigos que ameaçam o planeta e o compromisso com o bem-estar de nossa espécie e de todos os seres vivos. Para isso, é fundamental um esforço conjunto da ciência e da religião, um diálogo, uma compreensão e um respeito mútuo, com cada um reconhecendo a esfera em que age. Como resume Gould, no livro citado, ciência e religião "têm de controlar sua tendência a invadir o domínio do vizinho, mas só podem se enriquecer com o diálogo e a compreensão mútua".

Fernando Gewandsznajder(Licenciado em Biologia, doutor em Educação, professor de Biologia no Colégio Pedro II-RJ e autor de livros de Ciências e Biologia pela Ática)





Um livro muito interessante que aborda este assunto é UM CIENTISTA LÊ A BÍBLIA, escrito pelo físico e pastor anglicano John Polkinghorne. Eu li o livro e me identifiquei bastante, pois creio sim que a Ciência e a Religião devem ser parceiras, elas são muito mais parecidas do que podemos supor e na realidade dizem a mesma coisa, mas com maneiras diferentes, elas se complementam, nehuma sozinha tem respostas para todas as perguntas, mas juntas podem esclarecer muita coisa. Bom isso é o que eu penso!

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