4 de abril de 2012

QUEIMADA GRANDE: A ILHA DAS COBRAS

      Queimada Grande é uma pequena ilha, de 40 ha, a 35 km de Itanhaém, São Paulo, intensamente estudada pelos pesquisadores do Laboratório de Herpetologia do Instituto Butantan. Aproximadamente metade de sua área é coberta por Mata Atlântica e capinzais, e metade corresponde a rochas nuas. É considerada como Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE).

      Não possui praia, nem tampouco água potável, sendo que a vegetação é arbustiva e densa. É comum a prática de pesca amadora de arremesso e mergulho.  Conta ainda com variadas espécies de peixes como garoupas, budiões e caranhas. Ao sul, no Parcel de Fora, com profundidades variando entre 3 e 30 m, circulam os peixes maiores, muito cobiçados pelos caçadores. Há, ainda, no local, um farol para auxílio à navegação, sendo a altitude máxima de 1,90 metros.
    
     Esta ilha também é conhecida como Ilha das Cobras e o desembarque não é aconselhado devido ao elevado número de cobras peçonhentas. É considerada, no meio científico, como o maior serpentário natural do mundo.


    Nas áreas com vegetação ocorre apenas duas espécies de serpentes, ambas endêmicas da ilha, a dormideira-da-queimada-grande e a jararaca-ilhoa.
     A raríssima Dormideira (Dipsas albifrons carvalheroi), é uma serpente da família Colubridae, que se alimenta de lesmas e é absolutamente inofensiva, sendo consideradamente como criticamente em perigo pelo Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.



    
      A Jararaca Ilhoa (Botrophs insularis), uma serpente da família Viperidae, ocorre em altíssima densidade. Biólogos, em um dia de trabalho, podem encontrar de 30 a 60 exemplares desta espécie. Por não haver mais mamíferos terrestres na ilha, esta serpente adaptou-se à dieta de aves migratórias. Para poder se alimentar de uma ave, é necessário que o veneno da serpente seja de ação bastante rápida, senão esta ave termina por morrer fora do alcance da serpente. Em decorrência da dieta de aves, seu veneno foi selecionado para tornar-se mais forte e especializado que o da jararaca do continente (Botrophs jararaca).
    
     Além do veneno, a Jararaca ilhoa apresenta uma outra particularidade: a presença de hemiclitóris desenvolvido na maioria dos exemplares fêmeas desta população. Esse fato é conhecido para poucas espécies no mundo, e na maioria delas, é eventual. O hemiclitóris muitas vezes apresenta-se como o hemipênis dos machos, os órgãos copuladores. Essa característica é chamada de inter-sexualidade, embora os exemplares com hemiclitóris sejam genética e fisiologicamente fêmeas.
    
     Por tudo isso, esta ilha e seus habitantes são muito especiais. Portanto todo esforço é válido para preservá-los intactos para gerações futuras, para que possam conhecê-los e aprender com eles.


Fontes:

MARQUES, O.A.V.; ETEROVIC, A.; SAZIMA, I. Serpentes da Mata Atlântica - Guia Ilustrado para a Serra do Mar. Holos Editora. São Paulo, 2001

PRIMACK, R.B.; RODRIGUES, E. Biologia da Conservação.Editora Planta. Londrina, 2001

CIÊNCIA HOJE. vol 31. nº 186, setembro de 2002, pg 56-59.

Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.



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